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07 fevereiro, 2013

Enxurrada - pt.1.

Tudo pronto.

Estava perfumada, de saia, jaqueta e sapato alto. este, mais belo, novo e cheiroso.
Quando olhava para ele o mundo parava, tudo podia acontecer, parar, pensar, menos, é claro, pisar. um tropeço que seja levaria todo brilho, toda maciêz e satisfação pra fora do corpo, pois tudo tinha que estar perfeito. e estava. tudo em seu lugar, nada podia deter, nem mesmo as questões maiss difíceis. haveria algum gabarito pra tudo? que englobasse todas as questões: racionais, intelectuais, de tempo, forma e efeito.  a que mais despencava: sentimento X razão.

A razão de estar seguindo do modo em que o roteiro fora aplicado era nítida. mas em algum momento aquilo que era pra ser e não foi bateu. já havia batido quatro vezes, mas essa era antiga, a que retornou foi a segunda. ninguém esperava aquele momento, nem ela, nem ele, nem o coração que palpita por outro, nem os cadernos e as  músicas, bem como a bendita chuva. era inimaginável aos olhos de qualquer um mas ninguém consegue manusear a mente com a palma das mãos, alguém garante?

E apareceu, naquela tarde, ele chegou com um violão nas costas, que por sinal sempre estava por perto, ele buscava o aperfeiçoamento. parece que alcançou, que bom. sentou junto à mesa e começou a questionar como se pudesse prever os sentimentos ou como se fosse o dono da verdade, ou como se quisesse, só por alguns minutos, poucos e raros. qual o caminho que esses pensamentos e sentimentos desgovernados chegariam? pouco se importou com tamanha inconsequência que seus atos levariam. acreditava que as palavras tinham uma vida à curto prazo e assim não sobreviveriam os dias frios. tal engano não pode ser notado.

Ela buscou compreender, até se rejeitou em pensar inúmeras vezes na resposta. e como sempre, depois do ocorrido ficava refugiada no único lugar em que podia falar, com todas as palavras e todos os sentimentos.

Estava em pé, o local chacoalhava, fazia barulho, mal conseguia se mexer, não teve como. a enxurrada pegou bem forte.  o perfume, a saia, o sorriso e o salto foram molhados. em algum lugar, do outro lado da avenida alguém a observava em câmera lenta pois estava tão forte que mal conseguia se mover. esqueci de mencionar os belos cachos curtos na coloração mel, mas nesse momento estavam em um tom negro gritante.

Esvaziou-se! mas não foi percebido, pois pela face era inconcebível qualquer reação. pela voz, sim. os lábios diziam mas não se pôde ouvir, a voz refletia tudo. o perfume, a saia, a maquiagem, os cachos e o salto lindo, belo e verde.


Hoje não se sabe quando haverá um novo encontro, apesar de ser almejado. e ele ficou a acreditar medianamente em si, nas ações e repercussões de seus sentimentos, pois se soubesse ao se esquivar cuidaria para não aumentar uma dúvida, uma mágoa, uma tormenta. que pelo visto vai seguir em frente, atravessando coágulos e glóbulos pela busca de esclarecimentos ou não. pode ser que o caminho se abra e estará tudo pronto.


Mais sorte da próxima vez. esclarecimentos, venham.